sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A Nossa Plasticidade Biológica




 
Uma das certezas humanas é que todas as formas de vida, envelhecem. Entretanto, observa-se que este fenômeno inexorável, é variável entre os indivíduos da mesma espécie, assim como também o é entre indivíduos de espécies diferentes. Este fato originou diversos estudos e teorias sobre o envelhecimento biológico, que envolve a perda de funcionalidade progressiva e o aumento da susceptibilidade e a incidência à doenças, elevando cada vez mais o risco de morte. 

Uma das teorias do envelhecimento biológico é a Teoria dos Telômeros.  

Os telômeros, como as pontas de um cadarço, são capas de proteção no final dos cromossomos (longa sequência de DNA, composta por genes que, por sua vez, nos caracterizam biológicamente) e ajudam a proteger as células dos danos e do envelhecimento. Cada vez que uma célula se divide, pequenas partes de seus telômeros são perdidos e, quando os telômeros se findam, as células morrem. 

Dessa forma, essa teoria provou que o encurtamento dos telômeros estão associados ao processo de senescência celular, tornando o ser suscetível à manifestação de uma ampla gama de doenças relacionadas à idade, incluíndo as doenças cardíacas, a demência, o AVC, a osteoporose, a obesidade, o diabetes e alguns câncros. Por essa razão, encontrar um caminho para reverter a progressão desses desgastes, tornou-se um enorme desafio.

Assim, dedicado a essa causa, o Dr. Dean Ornish, presidente e fundador do Instituto de Pesquisa de Medicina Preventiva em Sausalito e Professor da Universidade da Califórnia em São Francisco, USA, tem realizado inúmeros estudos ao longo da sua vida acadêmica, com o objetivo de elucidar questões que podem mudar histórias de vida. 

Em texto que elaborei a partir do vídeo que pode ser conferido acima (editado da fonte http://www.youtube.com/watch?v=QPpJU8Je-lE) , ele nos conta um pouco de suas conclusões após o seu último estudo que, publicado na revista "The Lancet Oncology", Volume 14, Issue 11, October 2013, Pages 1112–1120*, o artigo científico "Effect of comprehensive lifestyle changes on telomerase activity and telomere length in men with biopsy-proven low-risk prostate cancer: 5-year follow-up of a descriptive pilot study", eleva o nível de conhecimento nessa área para um novo patamar se comparado a estudos anteriores, isto é, dos últimos 35 anos.

Análises epidemiológicas e estudos prévios já haviam indicado que mudanças abrangentes nos hábitos de saúde e estilo de vida, poderiam modificar os mecanismos moleculares da progressão do câncer de próstata e em 2008, os pesquisadores da equipe do Dr Ornish, realizaram um estudo com homens com câncer de próstata em estágio inicial. Os sujeitos da pesquisa foram limitados a indivíduos que tinham optado por não se submeterem a qualquer tratamento convencional, o que proporcionou uma oportunidade incomum de evitar a confusão de intervenções e os resultados foram estimuladores (Ornish d et al. Healthy Lifestyle Changes Gene Expression and Telomere Length in 3 Months, PNAS 2008; 105:8369).  

Os sujeitos analisados foram monitorados cientificamente através de triagens e biópsias e foram convidados a fazer alterações no seu estilo de vida. Os resultados então, demonstraram que mudanças na nutrição e no estilo de vida estariam significativamente associadas a atividade da telomerase, isto é, à capacidade de manutenção dos telômeros em células do sistema imunológico humano, relacionadas no caso à detenção da progressão do câncer de próstata em estágio inicial. Os aumentos na atividade da telomerase foram significativamente associados a uma diminuição da lipoproteína de baixa densidade (LDL), assim como no sofrimento psicológico. Entretanto,  esse estudo demostrou somente os efeitos a curto prazo, isto é, o período observado de 3 meses.

Então, o novo estudo de 2013, citado acima*, deu continuidade à investigação de 2008 com os mesmos homens, para determinar se as mudanças de estilo de vida poderiam afetar o comprimento dos telômeros para o longo prazo. E foi assim que, além da validação do estudo anterior, desvendou-se uma surpreendente descoberta. 

Para esse estudo, foram acompanhados por 5 anos,  35 homens com câncer de próstata de baixo risco, sendo todos tido selecionados de acordo com os mesmos critérios. Desse total, 10 homens foram inclusos no grupo de intervenção, convidados a seguir um programa criterioso com mudanças abrangentes no estilo de vida** (dieta, atividade física, gerenciamento de estresse e apoio social). Já os outros 25 sujeitos, pertenceram ao grupo-controle, submetidos somente à vigilância ativa do seu quadro, mas sem qualquer alteração ou intervenção em suas rotinas.

Durante 5 anos, o comprimento dos telômeros e a atividade enzimática telomerase (enzima descoberta pela Dra Elizabeth Blackburn, que tem como função adicionar sequências específicas e repetitivas de DNA à extremidade dos cromossomos, contrabalanceando o encurtamento no  comprimento dos telômeros), de ambos os grupos, foram comparados. 

Foi então observado, que o comprimento dos telômeros aumentou desde o início no grupo que aderiu às mudanças de estilo de vida, mesmo após o ajuste de idade dos participantes, o que foi significativamente associado ao experimento. Após 5 anos de acompanhamento, o grupo controle (sem intervenção), confirmou a continuidade na perda da atividade da telomerase, com telômeros quase 3 por cento mais curto. Já, no grupo de sujeitos submetidos à intervenção, ineditamente, observou-se após os 5 anos, não somente a preservação, como a continuidade " significativa " do aumento no comprimento dos telômeros de 10 por cento, o que poderia ser interpretado como o fenômeno da plasticidade genética: "Nossos genes e os nossos telômeros não são necessariamente o nosso destino ", disse Ornish. Se a pessoa pensa que a sua carga genética não lhe é favorável e que não há nada que possa fazer a esse respeito, está na hora de rever os seus conceitos e sair dessa zona de conforto (que não terá nada de confortável, mais dia, menos dia). Os telômeros podem alongar, a qualquer idade, na medida em que as pessoas mudam como eles vivem, fato que, não só acrescenta anos à vida, mas vida saudável à esses anos!

De acordo com um comunicado à imprensa, o cientísta e seus colaboradores disseram esperar que estes resultados inspiradores, motivem muitas mais investigações, uma vez que este foi um estudo piloto, com um pequeno número de indivíduos, pois os resultados ainda necessitam ser comprovados em estudos de maior escala, antes que os seus resultados possam ser proclamados como definitivos. Nesse sentido, o pesquisador também esclarece que os estudos não podem ser limitados somente a homens com câncer de próstata, mas deve ser relevante para a população em geral, necessitando também, dessa forma, ser estudado.

**Alterações nos hábitos dos sujeitos acompanhados na pesquisa:
  • Ingestão de uma dieta saudável e balanceada, baseada em vegetais, frutas, legumes e grãos não refinados, pobre em gorduras saturadas e carboidratos refinados;
  • Prática de exercícios moderados com caminhadas de 30 minutos por dia, seis dias por semana, aulas de Yoga com alongamentos suaves;
  • Programa de redução do estresse, incluíndo exercícios respiratórios com base no Yoga, a prática regular da Meditação e a manutenção de uma conexões sociais positivas, com amigos e entes queridos.
É mesmo fantástico que tecnologias sofisticadas e monitoramentos precisos, sirvam-nos tão bem, até mesmo para provar que hábitos simples e um estilo de vida saudável podem alterar características genéticas e a idéia de hereditariedade, pois apesar da imensa e expressiva indústria do anti-envelhecimento, não houve ainda qualquer avanço na medicina que possa reverter a idade, entretanto as nossas opções podem alterar completamente a nossa qualidade de vida, demonstrando que a nossa carga genética tem um impacto muito menor do que imaginavamos.


Claudia B., c.pilatesyoga@gmail.com

Pós-Graduação: Método Pilates – Fisioterapia Esportiva/ Certificação: Yoga – Treinamento Funcional – Sling Training


Nenhum comentário:

Postar um comentário