Uma das
certezas humanas é que todas as formas de vida, envelhecem. Entretanto,
observa-se que este fenômeno inexorável, é variável entre os indivíduos da
mesma espécie, assim como também o é entre indivíduos de espécies diferentes.
Este fato originou diversos estudos e teorias sobre o envelhecimento biológico,
que envolve a perda de funcionalidade progressiva e o aumento da
susceptibilidade e a incidência à doenças, elevando cada vez mais o risco de
morte.
Uma das
teorias do envelhecimento biológico é a Teoria dos Telômeros.
Os telômeros, como as pontas de um cadarço, são capas de proteção no
final dos cromossomos (longa sequência de DNA, composta
por genes que, por sua vez, nos caracterizam biológicamente) e ajudam a proteger as células dos danos e do
envelhecimento. Cada vez que uma célula se divide, pequenas partes de seus
telômeros são perdidos e, quando os telômeros se findam, as células morrem.
Dessa forma, essa teoria provou que o encurtamento dos telômeros estão
associados ao processo de senescência celular, tornando o ser suscetível à manifestação de
uma ampla gama de doenças relacionadas à idade, incluíndo as doenças cardíacas,
a demência, o AVC, a osteoporose, a obesidade, o diabetes e alguns câncros. Por
essa razão, encontrar um caminho para reverter a progressão desses desgastes,
tornou-se um enorme desafio.
Assim,
dedicado a essa causa, o Dr. Dean Ornish, presidente e fundador do Instituto de
Pesquisa de Medicina Preventiva em Sausalito e Professor da Universidade da
Califórnia em São Francisco, USA, tem realizado inúmeros estudos ao longo da
sua vida acadêmica, com o objetivo de elucidar questões que podem mudar
histórias de vida.
Em texto que
elaborei a partir do vídeo que pode ser conferido acima (editado da fonte http://www.youtube.com/watch?v=QPpJU8Je-lE)
, ele nos conta um pouco de suas conclusões após o seu último estudo que,
publicado na revista "The Lancet Oncology", Volume 14, Issue 11,
October 2013, Pages 1112–1120*, o artigo científico "Effect of
comprehensive lifestyle changes on telomerase activity and telomere length in
men with biopsy-proven low-risk prostate cancer: 5-year follow-up of a
descriptive pilot study", eleva o nível de conhecimento nessa área para um
novo patamar se comparado a estudos anteriores, isto é, dos últimos 35 anos.
Análises epidemiológicas e estudos prévios já haviam indicado que
mudanças abrangentes nos hábitos de saúde e estilo de vida, poderiam modificar
os mecanismos moleculares da progressão do câncer de próstata e em 2008, os
pesquisadores da equipe do Dr Ornish, realizaram um estudo com homens com
câncer de próstata em estágio inicial. Os sujeitos da pesquisa foram limitados
a indivíduos que tinham optado por não se submeterem a qualquer tratamento
convencional, o que proporcionou uma oportunidade incomum de evitar a confusão
de intervenções e os resultados foram estimuladores (Ornish d et al. Healthy Lifestyle Changes
Gene Expression and Telomere Length in 3 Months, PNAS 2008; 105:8369).
Os
sujeitos analisados foram monitorados cientificamente através de triagens e
biópsias e foram convidados a fazer alterações no seu estilo de vida. Os
resultados então, demonstraram que mudanças na nutrição e no estilo de vida
estariam significativamente associadas a atividade da telomerase, isto é, à
capacidade de manutenção dos telômeros em células do sistema imunológico
humano, relacionadas no caso à detenção da progressão do câncer de próstata em
estágio inicial. Os aumentos na atividade da
telomerase foram significativamente associados a uma diminuição da lipoproteína
de baixa densidade (LDL), assim como no sofrimento psicológico. Entretanto, esse estudo demostrou somente
os efeitos a curto prazo, isto é, o período observado de 3 meses.
Então, o novo estudo de 2013, citado acima*, deu continuidade à
investigação de 2008 com os mesmos homens, para determinar se as mudanças de
estilo de vida poderiam afetar o comprimento dos telômeros para o longo prazo.
E foi assim que, além da validação do estudo anterior, desvendou-se uma
surpreendente descoberta.
Para esse estudo, foram acompanhados por 5 anos, 35 homens com
câncer de próstata de baixo risco, sendo todos tido selecionados de acordo com
os mesmos critérios. Desse total, 10 homens foram inclusos no grupo de
intervenção, convidados a seguir um programa criterioso com mudanças
abrangentes no estilo de vida** (dieta, atividade física, gerenciamento de
estresse e apoio social). Já os outros 25 sujeitos, pertenceram ao
grupo-controle, submetidos somente à vigilância ativa do seu quadro, mas sem
qualquer alteração ou intervenção em suas rotinas.
Durante 5 anos, o comprimento dos telômeros e a atividade enzimática
telomerase (enzima descoberta pela Dra Elizabeth Blackburn, que
tem como função adicionar sequências específicas e repetitivas de DNA à
extremidade dos cromossomos, contrabalanceando o encurtamento no comprimento dos telômeros), de ambos os grupos,
foram comparados.
Foi então observado, que o comprimento dos telômeros aumentou desde o
início no grupo que aderiu às mudanças de estilo de vida, mesmo após o ajuste
de idade dos participantes, o que foi significativamente associado ao
experimento. Após 5 anos de acompanhamento, o grupo controle (sem intervenção),
confirmou a continuidade na perda da atividade da telomerase, com telômeros
quase 3 por cento mais curto. Já, no grupo de sujeitos submetidos à
intervenção, ineditamente, observou-se após os 5 anos, não somente a preservação,
como a continuidade " significativa " do aumento no comprimento dos
telômeros de 10 por cento, o que poderia ser interpretado como o fenômeno da
plasticidade genética: "Nossos genes e os nossos telômeros não são
necessariamente o nosso destino ", disse Ornish. Se a pessoa pensa que a
sua carga genética não lhe é favorável e que não há nada que possa fazer a esse
respeito, está na hora de rever os seus conceitos e sair dessa zona de conforto
(que não terá nada de confortável, mais dia, menos dia). Os telômeros podem
alongar, a qualquer idade, na medida em que as pessoas mudam como eles vivem,
fato que, não só acrescenta anos à vida, mas vida saudável à esses anos!
De acordo com um comunicado à imprensa, o cientísta e seus colaboradores
disseram esperar que estes resultados inspiradores, motivem muitas mais
investigações, uma vez que este foi um estudo piloto, com um pequeno número de
indivíduos, pois os resultados ainda necessitam ser comprovados em estudos de
maior escala, antes que os seus resultados possam ser proclamados como
definitivos. Nesse sentido, o pesquisador também esclarece que os estudos não
podem ser limitados somente a homens com câncer de próstata, mas deve ser
relevante para a população em geral, necessitando também, dessa forma, ser
estudado.
**Alterações nos hábitos dos sujeitos acompanhados na pesquisa:
- Ingestão de uma dieta saudável e balanceada, baseada em vegetais, frutas, legumes e grãos não refinados, pobre em gorduras saturadas e carboidratos refinados;
- Prática de exercícios moderados com caminhadas de 30 minutos por dia, seis dias por semana, aulas de Yoga com alongamentos suaves;
- Programa de redução do estresse, incluíndo exercícios respiratórios com base no Yoga, a prática regular da Meditação e a manutenção de uma conexões sociais positivas, com amigos e entes queridos.
É mesmo fantástico que tecnologias sofisticadas e monitoramentos
precisos, sirvam-nos tão bem, até mesmo para provar que hábitos simples e um
estilo de vida saudável podem alterar características genéticas e a idéia de
hereditariedade, pois apesar da imensa e expressiva indústria do
anti-envelhecimento, não houve ainda qualquer avanço na medicina que possa
reverter a idade, entretanto as nossas opções podem alterar completamente a nossa
qualidade de vida, demonstrando que a nossa carga genética tem um impacto muito
menor do que imaginavamos.
Claudia B.,
c.pilatesyoga@gmail.com
Pós-Graduação:
Método Pilates – Fisioterapia Esportiva/ Certificação: Yoga – Treinamento
Funcional – Sling Training
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