Uma simples dor nas costas pode esconder
problema mais grave
Aquele incômodo nas costas, por vezes leve, que até passa com um remédio
aqui, uma compressa ali, pode esconder um quadro preocupante. A dor nessa
região, que engloba pescoço, ombros, coluna e lombar, já é caso de saúde
pública global. Segundo duas pesquisas australianas publicadas em março no
periódico inglês Annals of the Rheumatic Disease, a principal causa de
invalidez no mundo são as lombalgias (dores que atingem especificamente a
lombar). Levam também a culpa por boa parte dos diagnósticos de incapacidade
que afastam do ambiente profissional.
Ambos os estudos são análises aprofundadas de dados do Global Burden of
Disease 2010, levantamento divulgado em 2012 que avaliou a prevalência de 291
doenças em 187 países durante 20 anos. O trabalho da Universidade Monash, no
estado de Victoria, indicou que quase 10% das pessoas sofrem de dores na região
lombar. E a tendência de aumento dos casos é evidente: o número de afetados com
o problema, que era de 58,2 milhões em 1990, subiu para 83 milhões em 2010. A
segunda pesquisa, da Universidade de Sydney, mostrou que um em cada três casos
de invalidez no trabalho (ou 22 milhões no mundo) é causado pela dor lombar.
No Brasil, as estatísticas e projeções se confirmam. Estudo do Instituto
de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro concluiu que 30
em cada 100 segurados da Previdência Social se aposentam por invalidez
decorrente de dores nas costas a cada ano. Isso não significa que os dados
sejam superdimensionados, mas fica uma leve dúvida entre os especialistas em
determinadas situações. Causas físicas, como hérnias de disco e desgastes
degenerativos que chegam com a idade, também são fatores importantes.
1. Geração preguiça
Nas últimas décadas, diminuímos os movimentos diários, que fortalecem e
alongam a musculatura. E, quando nos movimentamos, em geral é de maneira
errada. Entre os fatores responsáveis por isso estão o sedentarismo, a
obesidade e a má postura - reforçada pelo hábito de manter os olhos cravados no
smartphone, forçando o pescoço para baixo, e o laptop no colo. Contribuem
também os móveis e equipamentos de trabalho, que deixam a desejar em ergonomia,
e o stress, que tensiona a musculatura até travar tudo. O tabagismo também
prejudica as costas. Os cientistas afirmam que as substâncias tóxicas
associadas ao cigarro atrapalham a irrigação dos músculos e os enfraquecem, o
que pode resultar em dor.
2. Perigosas combinações
No caso específico das mulheres, se associam aos maus hábitos
contemporâneos algumas características próprias. A lordose, por exemplo,
acentuação da curvatura natural no final da coluna, é típica da anatomia
feminina. A curvatura excessiva, juntamente com a postura incorreta, leva
à lombalgia. A dupla salto alto e bolsa pesada é o pesadelo dos especialistas
em coluna que tratam o público feminino. O salto provoca o encurtamento dos
músculos da parte de trás das pernas e pressão na lombar. Já a bolsa pode
comprimir vértebras e desviar a espinha. As mulheres também são mais
suscetíveis ao ganho de peso e à osteoporose, o que afeta diretamente a coluna.
Mas, apesar de a perda de gordura e o fortalecimento dos ossos serem essenciais
para elas, é preciso cuidado com atividades de impacto. Um estudo do Hospital
do Coração (HCor), em São Paulo, com 240 praticantes de corrida, revelou que as
dores nas costas afetam mais as mulheres, atingindo 49,5% delas ante 39,3% dos
homens. Entre todos os participantes da análise, 70% conviviam com dores
lombares e 30% com dores cervicais, provando que esportes de impacto podem
agravar problemas na coluna. O estudo destacou ainda que, em geral, mulheres
acima do peso têm um risco 50% maior em relação aos homens de desenvolver dores
na região. Elas devem ficar atentas também a outro complicador: a fibromialgia,
síndrome que provoca dores constantes no corpo por longos períodos,
atingindo-as sobretudo entre os 20 e 50 anos. Segundo o neurocirurgião Elias,
se já existe um quadro problemático nas costas, a síndrome intensifica as
dores.
3. Não espere piorar
Ninguém deve imaginar que tem de suportar a dor nas costas para sempre,
enganando-se nos momentos de crise com relaxante muscular. É a negligência que
leva à invalidez. "Não é qualquer dorzinha que deixa o indivíduo incapaz.
No entanto, uma dor leve que não seja diagnosticada corretamente pode mascarar
uma doença grave, como tumores, fraturas, inflamações, infecções e distúrbios
neurológicos", afirma o reumatologista Natour. Já no caso das temidas
hérnias de disco, é diferente. "Há quem conviva com elas sem sentir nada a
vida toda." E, contrariando o que muita gente pensa, nem sempre exigem
cirurgia. É importante diferenciar a dor crônica da aguda. É considerada
crônica a que ultrapassa três semanas, mesmo que de leve intensidade. A aguda
não passa desse tempo, mas causa grande sofrimento, nunca é leve e exige
atendimento imediato. Nos dois casos, é necessário avaliação médica para saber
se bastam repouso e remédios ou se é indicada uma investigação mais detalhada. Quando
há necessidade de cirurgia, as intervenções são pouco invasivas, e o tempo de
recuperação, que era de meses, caiu para cerca de três semanas. Não há, porém,
grandes avanços na área atualmente. O que predomina em relação aos tratamentos
são recursos já consagrados, como fisioterapia, reeducação postural global
(RPG), acupuntura, hidroterapia e medicamentos específicos.
Para reverter a conclusão dos estudos australianos, que refletem uma
tendência mundial, a prevenção é o caminho. Mudar o comportamento das pessoas é
urgente. Não se trata apenas de saúde. É também uma questão social, que afeta
relações pessoais e de trabalho.
Cuidados como manter a espinha ereta, não sobrecarregar as articulações,
escolher bem colchões e travesseiros, alternar o uso de salto alto com solados
baixos e dividir o peso que vai na bolsa em outra sacola são medidas simples
que fazem enorme diferença. Acrescente à lista abandonar o cigarro.
Os
especialistas recomendam atividades como natação, hidroginástica, ioga, pilates e
musculação, que conjugam exercícios de força e de alongamento. Assim, os
músculos abdominais e das costas ficam firmes e sustentam a postura. Esportes
de impacto só podem ser praticados com aval médico.
A invalidez é o quadro extremo, claro, mas a dor constante e moderada já
faz estragos significativos: afeta sono, humor, disposição e ganha dimensões
emocionais e físicas que atrapalham as relações. Nem mesmo a depressão está
descartada como consequência. Preservar a saúde das costas, portanto, entra no
rol de transformações que priorizam a qualidade de vida.
Salva pelos exercícios
"A primeira vez que minhas costas travaram foi aos 25 anos. Cursava
a faculdade de arquitetura e passava horas debruçada na prancheta, toda torta.
Um dia, acordei sem conseguir me mexer. No hospital, o médico descobriu um
pedaço de vértebra rachadinho. Nada perigoso; dava para conviver. Mas, com a má
postura, a situação se agravou. Volta e meia tinha uma crise. Cheguei a passar
três dias de cama. Mal conseguia ficar de pé. Chorava de dor e de raiva, me
sentia inutilizada, dependente dos outros. Fiquei abalada. Eu me cuidava só com
remédios. Com a idade, tive que fortalecer a musculatura com ioga e musculação.
As crises diminuíram muito. Hoje em dia é raro eu usar medicamentos. Só preciso
se mudo a rotina. Por exemplo: nas festas de fim de ano, travei de novo. Foi um
período em que parei a atividade física e dormi na casa da minha sogra, num
colchão diferente. A rotina de exercícios é fundamental para evitar as
dores."
Mirian Nomura, 53 anos, arquiteta.
Quando a cirurgia é a solução
"Sempre pratiquei muito esporte: corrida, boxe, ciclismo. Quando
senti um incômodo na região lombar, em novembro de 2012, não levei a sério.
Achei que era uma dor muscular causada pela intensidade dos exercícios e a
agitação diária. Viajo muito a trabalho, passo horas em avião, noites e noites
em camas de hotel. Mas um dia fui simplesmente caminhar e não consegui. Os
exames mostraram uma hérnia pequena, sem indicação de cirurgia.
Tomei medicamentos, me submeti a fisioterapia e acupuntura. Nada
resolvia e a dor aumentava. Cancelei todas as viagens a trabalho. Não andava
mais que 15 minutos. O médico não entendia. O exame de ressonância não indicava
nada anormal. Insisti que desejava ser operada.
A princípio, ele não queria. Mas, diante das minhas dores fortes e
nenhuma possibilidade de solução, ele cedeu. Enfrentei a cirurgia há três
semanas. A surpresa foi encontrarem uma hérnia maior, comprimida no nervo, que
não aparecia nos exames. A dor já diminuiu e em quatro meses espero voltar a
correr."
Alejandra Velasco, 38 anos, diretora da Hermès para América Latina.
O papel da terapia
"Há quatro anos parei de dar aulas de educação física por causa de
um problema na coluna. Apareceu uma lombalgia, sem explicação, meses após o
nascimento da minha filha. Eu travava, ficava de cama. Sentia uma dor que me
impedia de respirar. Os médicos descobriram uma pequena hérnia e me submeti a
tudo: RPG, acupuntura, remédios. Nada melhora de fato; apenas alivia.
Não fico um minuto sem dor. Com o tempo, fui também diagnosticada com
fibromialgia, que já é um estado constante de dor pelo corpo e que, na região
lombar, piora ainda mais. Voltei a enfrentar uma sequência de crises no ano
passado. Duas vezes por semana, parava no hospital. Foi o auge da crise no meu
casamento, que acabou há cinco meses. Após a separação, as dores diminuíram um
pouco.
Não sou, porém, uma pessoa que leva vida normal, que realiza movimentos
como qualquer um. A terapia me ajudou bastante, assim como os antidepressivos e
o artesanato com biscuit, que agora também é meu ganha-pão. Devido a uma crise
financeira, perdi meu plano de saúde e não consigo fazer os exames que o
reumatologista pediu. Não sei se vou ter que operar."
Cibele Klarkin, 35 anos, educadora física e artesã.
Fonte:
http://cidadeverde.com/uma-simples-dor-nas-costas-pode-esconder-problema-mais-grave-168820,
24/07/14, 17:27
Claudia B.,
c.pilatesyoga@gmail.com
Pós-Graduação:
Método Pilates – Fisioterapia Esportiva/ Certificação: Yoga – Treinamento
Funcional – Treino em Suspensão